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terça-feira, 13 de abril de 2010

Crônica - Dead line

Os brasileiros gostam de usar algumas expressões em inglês em situações do dia-a-dia, tipo happy hour, hora do rush. Em áreas como o jornalismo é corriqueira a expressão dead line, usada em referência a uma data, prazo limite para executar uma tarefa. Esse limite é improrrogável, pois compromete o trabalho de toda a equipe. "Qual é o meu dead line?", se pergunta o jornalista, logo que recebe a pauta.

Traduzido literalmente esse termo significa "linha da morte". Não deixa de ser, pois se o objetivo não é cumprido é quase como cortar sua cabeça. Estabelecer um dead line é fundamental para que a equipe não vá num ritmo de quem tem todo o tempo do mundo.

O dead line impõe temor, mas chegou uma hora em que não pude mais viver sem ele. Bem que eu queria mas não sou o tipo em que você pede algo, sem compromisso, e eu apronto em dois tempos. Quando eu sigo tendo em mente o prazo limite tudo muda de figura - nem que seja de véspera tenho que dar meus pulinhos pra cumprir a tarefa.

Dá pra aplicar esse termo em muitas áreas da vida. Lendo um conhecido trecho de Gênesis encontrei alguém que extrapolou o dead line:

"E aconteceu que, como Isaque envelheceu, e os seus olhos se escureceram, de maneira que não podia ver, chamou a Esaú, seu filho mais velho, e disse-lhe: Meu filho. E ele lhe disse: Eis-me aqui.

E ele disse: Eis que já agora estou velho, e não sei o dia da minha morte; agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, e sai ao campo, e apanha para mim alguma caça.

E faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para que eu coma; para que minha alma te abençoe, antes que morra" (Gênesis 27:1-4).
Já era tempo de Esaú pensar no futuro. Qualquer filho que tem um pai idoso precisa pensar em coisas do tipo: quem vai cuidar dos negócios do meu pai? Quem cuidará da família? Quem vai tocar tudo isso depois de sua morte?

Todo fllho, especialmente o mais velho pensa assim quando a idade começa a trazer seus efeitos na saúde do pai. Mas havia algo a mais para pensar. Seu pai tinha mais do que bens materiais para repassar, pois era nada mais nada menos que Isaque - o filho da promessa. Aquela era a segunda geração em que Deus estava cumprindo a promessa de gerar uma incontável descendência a partir de Abraão.

Por isso Esaú também deveria se perguntar: "Quem vai ser o condutor da bênção do Senhor? Quem dará continuidade as estrelas do céu, os grãos de areia da multidão que está nascendo?" Em todos os casos a resposta era: eu. Com essa grande responsabilidade e privilégio sobre si já era tempo de Esaú se agradar de Deus. Já era tempo de depender dele e estar no centro da Sua vontade.

Esaú tinha um dead line, mas parecia não estar muito preocupado. Em todos aqueles anos ele sabia perfeitamente como agradar seu pai, que lhe pediu um guisado saboroso, do jeito que gostava.

Naquela altura Esaú estava tranquilo demais pois tinha habilidade para caçar e preparar um guisado saboroso até de olhos vendados. Em recompensa para algo tão trivial ele esperava ser abençoado pelo pai. Mas quando ele retornou, com a tarefa cumprida, o seu dead line já havia extrapolado:

"Então estremeceu Isaque de um estremecimento muito grande, e disse: Quem, pois, é aquele que apanhou a caça, e ma trouxe? E comi de tudo, antes que tu viesses, e abençoei-o, e ele será bendito.

Esaú, ouvindo as palavras de seu pai, bradou com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai: Abençoa-me também a mim, meu pai. E ele disse: Veio teu irmão com sutileza, e tomou a tua bênção (...)

E perguntou: Não reservaste, pois, para mim nenhuma bênção? (...) Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou" (Gênesis 27:33-38).
Muitas vezes sabemos de cor como agradar algumas pessoas, com palavras, presentes e atitudes. Nem sempre temos a mesma habilidade para agradar a Deus. Muitas vezes agimos tranquilamente por estarmos há muito tempo na igreja, sendo muito próximos dos sacerdotes ou exercendo funções de liderança. É alguém que espera uma bênção que parece óbvia.

Por ser o primogênito era óbvio, no entendimento de Esaú, que seria abençoado. Mas para Deus não parece nada óbvio que tenha o compromisso de abençoar alguém por tempo de igreja, ou porque só andamos na companhia de gente abençoada.

Esaú não perdeu a bênção especial do pai por ter chegado depois do irmão. Seu tempo já havia extrapolado no momento em que vendeu seu direito à primogenitura ao irmão Jacó. A velhice do pai era o dead line sendo estabelecido para Esaú, para correr atrás do prejuízo e se agradar de Deus. Preparar um guisado saboroso era o mesmo que estar perdendo de 10 a 0, aos 45 do segundo tempo, e ter esperança de virar o jogo. Não dava mais tempo.

Quando o nosso prazo com Deus extrapola não adianta sacudí-Lo, implorando por uma sobra de benção. Por engano Isaque abençoou Jacó, mas Deus não se enganou. Ao trocar seu posto de primogênito por um prato de lentilhas Esaú mostrou o quanto valia a bênção do Senhor em sua vida. Se o mais velho não valorizava a bênção Deus não iria abortar o projeto de multidão por causa dele. Jacó, mesmo por caminhos tortos, gerou as 12 tribos de Israel. O caçula passou a carregar a bênção que iria mudar o mundo.

Já era tempo de olhar para o futuro e fazer algo no presente. Há tempo para tudo, mas algumas coisas chegam às nossas vidas com um dead line de Deus. Quanto tempo o povo tinha para atravessar o caminho pelo Mar Vermelho? Deus não vai esperar por uma atitude nossa eternamente.

Um dead line é a linha de morte. Os dead lines de Deus devem ser observados por todo aquele que se diz filho Dele. Ele nos dá um dead line para que possamos largar a preguiça, os medos, as desculpas, os impedimentos, as brechas e chegar a tempo. A tempo no ganhar de vidas. A tempo no melhor de Deus. A tempo no cumprimento das grandes promessas. A tempo de participar da colheita.

Já está na hora de sermos tudo aquilo que Ele espera de nós. Jacó se mobilizou em cima da hora e Deus passou a apontar para ele, como o novo portador da bênção de multidão que, obviamente, não poderia mais ser de Esaú.

Tenho aprendido que já é tempo. Já extrapolei alguns dead lines, os jornalísticos e os não-jornalísticos. Meu dead line com Deus está chegando ao fim. Já esta mais do que aprendido que se agradar de Deus subentende se agradar de vidas. Muitas delas agonizam ao nosso lado, enquanto andamos assoviando, trazendo nosso guisado.

O interessante é que há algumas horas, numa reunião abençoadíssima, o Senhor reforçou esse alerta de que o tempo está passando de forma implacável, através da parábola da figueira estéril (Lucas 13:1-9). Uma árvore em condição privilegiada não apresentava motivos para não dar frutos. O dead line para uma figueira assim, literalmente, significa a morte, pois justifica o seu corte.

Espero que o seu dead line também esteja acabando. Vamos correr para dar frutos, pois os frutos respaldam uma árvore.


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