E Deus nos mostrou a vida. Logo pela manhã veio uma certeza que trazia também um pedido: “ainda verei notícias sobre os teus feitos”, nas mesmas páginas que nos trazem as informações do trágico. Não demorou muito. Num lugar cheio de crianças eu vi a vida. Onde muitos olhariam e enxergariam crianças feias, fracas, disformes, eu vi meninos e meninas absolutamente lindos. Inclusive a pequenina Sofia Vitória, a minha, a nossa notícia. Pequenina sim, pois é uma gota da chuva de milagres.
O menor bebê paraense
Quem acompanha a trajetória da pequena Sofia Vitória não tem dúvidas de que ela é um milagre. Menor do que um palmo da mão. Foi assim que a menina nasceu no último dia 21 de março, pesando apenas 575 gramas, após um parto prematuro aos cinco meses de gestação. Filha da jovem Suelem de Sousa, 23, além de ser o menor bebê da recente história da medicina paraense, a menina é um exemplo de superação. Mesmo se recuperando de uma insuficiência renal, que exigiu até sessões de hemodiálise, Sofia já pesa 1kg e recebe o carinho da mãe e dos médicos do Hospital de Clínicas Gaspar Viana em Belém, onde nasceu e se recupera na UTI Neonatal.
O temo normal de gestação é de 40 semanas. Com Sofia foram apenas 25 semanas de gestação, complicada desde o início, quando a mãe ainda morava em Santo Antônio do Tauá, onde começou a ter sangramentos e perder líquido. Também sentia tonturas por causa da pressão alta, desenvolvida na gestação. Sem diagnóstico a mãe de primeira viagem chegou a entrar em depressão. Quando chegou à Belém, com cinco meses de gestação, descobriu na Santa Casa de Misericórdia que tratava-se de gravidez de alto risco, para mãe e filha. Já internada teve uma eclampsia (alta pressão arterial). Em seguida a jovem, que nem sabia o sexo da criança, levou um susto ao saber da necessidade imediata da cesariana.
Transferida para o HC, referência em gravidez de alto risco, Suelem deu a luz ao bebê extremamente frágil “que seria um caixa de surpresas segundo os médicos”, lembra. Na primeira semana foi necessário um delicado processo de hemodiálise. Mas para a filtragem do sangue, auxiliando os minúsculos rins, como encontrar um cateter (tubo inserido geralmente nas veias) tão delicado como a paciente? A solução, segundo a coordenadora da UTI Neonatal, Elaine Figueiredo, foi adaptar um tipo de cateter utilizado em cirurgias neurológicas, com cerca de 3mm de diâmetro.
As veias também foram, nas primeiras semanas, os caminhos para a alimentação quando Sofia recebeu proteínas, vitaminas e gorduras. Mesmo o toque pode ser perigoso em prematuros tão pequenos. Os casos mais freqüentes são de bebês de 29 semanas que pesam 800 gramas . Mas em casos semelhantes ao de Sofia, segundo a chefe da pediatria, Kátia Harada, a taxa de mortalidade chega a 80%. Além da incubadora, são necessários cuidados como ventilação e aquecimento. O acompanhamento é 24h da equipe de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros, especializados em atendimento a prematuros.
O grande médico - O nome Sofia, que significa “sabedoria” em grego, foi sugerido pela coordenadora da UTI. A mãe acrescentou o segundo nome para traduzir a trajetória da menina. Suelem, que só agora está preparando o enxoval lembra que muitos diziam que deveria se preparar “para o pior”. Mas hoje, vendo a recuperação da filha acredita que “em primeiro lugar precisamos ter muita fé em Deus, o médico dos médicos”.
Na recuperação Sofia chegou a 457 gramas, mas começou a ganhar peso após vinte dias, quando já se alimentava de leite materno. Sofia, que virou o “xodó” da UTI também recebe o carinho da mãe, que a visita diariamente. A menina está ganhando cerca de 20 gramas por dia e nesse ritmo, segundo as médicas, poderá ter alta dentro de um mês, período em que ela deveria ter nascido se não fossem as complicações. O menor bebê do mundo registrado foi a menina Rumaisa, em setembro passado, em Chicago (EUA), pesando 243 gramas. O menor bebê brasileiro foi o pequeno Arthur, que nasceu em 2006, com 385 gramas, com gestação de 25 semanas.
sábado, 21 de junho de 2008
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