Site MANT Belém

terça-feira, 8 de julho de 2008

Quem é Marta?

Eu não tenho nome. Há algum tempo muitos me chamariam de Marta. O nome parece lindo, pelo menos na sonoridade. Nomes parecem coisas simples, uma mera escolha dos pais para preencher aquele espaço na certidão de nascimento, para bordar nas toalinhas ou criar um diminutivo fofinho. Pelo menos comigo meu nome selou parte da minha história, e definiu quem eu era.

Era apenas uma brincadeira, mas há alguns anos uma colega de trabalho jogou "Marta" no Google. Descobri que eu era um mamífero mustelídeos do gênero Martes, carnívora e semidigitígrada. Os pêlos de Marta são muito apreciados pela resistência e usados para fazer os pincéis mais caros do mundo. Pior ainda foi descobrir que Marta em aramaico significa “do lar”. O sarro foi geral no escritório e eu pensava: “pôxa, justo dona-de-casa!”.

O terceiro significado não foi nada engraçado. Grandes homens e mulheres são descritos na Bíblia pelas coisas que fizeram pela obra de Deus, sendo exemplos a serem seguidos na experiência com Ele. Muitos pais emprestaram da Palavra nomes para servir de benção aos filhos. Eu só não imaginava que eu também estava lá. Não, não falo apenas de uma citação de nome, eu estava lá, na Bíblia. Pode conferir!

Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.

Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois que venha ajudar-me.
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Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.
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Como foi chocante me ver. Esperei anos para que Jesus se hospedasse em minha casa, mas o que eu fiz quando chegou a hora? Eu esperava por Ele desde os tempos em que via os olhos de Deus no pôr-do-sol, na minha infância. Ficava ali contemplando sem perceber que já sentia a presença dele. O perdi de vista tempos depois. Aos dez anos levantei o rosto ao céu chorando e perguntava: “porque a minha vida é assim? Porque estou sofrendo? O que estou fazendo aqui?”. Subia no telhado para frustrantes despedidas do sol, que já não era o mesmo.


Desde então fui uma pessoa dividida entre a alegria extrema e a tristeza, aparentemente sem explicação. Me despedi da infância murchando e não me reconhecendo. Sem companhia me apeguei a solidão e o sofrimento com devoção. Só me arrependia quando o choro era demais para que minha alma e corpo suportassem. Talvez você tenha me visto vagando pelas ruas, passando o tempo, pois não queria chegar a lugar nenhum, não havia lugar para “sofrer em paz”. Até que eu achei um, o cemitério, onde não haveria perguntas nem olhares. Mas também não era lugar pra mim.

Na adolescência tudo parecia melhor. Descobri que a beleza seria um reflexo do meu interior e foi um grande avanço. “Como você é bonita”, diziam. Só que quanto mais velha ficava, mais órfã me sentia. Empolgada, busquei a Deus, e tudo o que reluzia parecia ouro – de tolo. Aos vinte e pouco minha busca terminou, pois Ele me encontrou.

E o que fiz? Eu fui lá pra cozinha, mergulhada em mil tarefas que eu mesma inventei. De lá eu apenas ouvia a alegria dos que estavam na sala. Pra não deixar a comida queimar derrubava as coisas no chão, com a testa franzida de preocupação. Me afoguei na minha angústia e me escondi da graça.

Quem trabalha demais e com opressão fica doente. Além de jornalista “polvo” virei Maria das dores. Minha coluna é o “S” de Sadia. Usei protetor de punho contra esforços repetitivos no braço direito. Aprendi a usar o mouse com a esquerda, lesionei. Não conseguia sair de casa sem proteção no joelho direito, e o esquerdo também começava a doer. Chorei de birra!

Como estagiária tive gastrite, como formanda repulsa a comida. Não era anorexia, mas sem remédio não conseguia comer, mesmo com fome. Cheguei aos 43kg e estava com vergonha até do vestido de formatura. Diagnóstico da nutricionista: depressão. Tive até uma inflamação de nome esquisito, mais incômoda e constrangedora que furúnculo, as vésperas de apresentar meu TCC.

Sem saúde, sem grana (ouvindo a frase do Roberto Justus sem parar) eu ouvia as pessoas na sala, que estavam com Jesus. O que eu fazia? Murmurava, em doses cavalares. Ainda apontava o dedo: “Olha lá Jesus. Manda ela me ajudar”. Leia-se: olhe para o meu sofrimento, olhe para minhas feridas. “Marta, Marta”, dizia o Senhor, numa repetição que traz um puxão de orelha: “deixe de ser teimosa, vem logo pra cá”.

Certa vez angustiada, há quase três anos sem orar, peguei a Bíblia empoeirada e ordenei cheia de birra: “fala comigo, qualquer coisa”. Adivinhe o que achei (Marta, Marta...)! Eu não conseguia escolher o melhor. Preferia repetir o filme da minha vida – tomar a dianteira isolada na corrida, mas parar perto da faixa e dizer: acho que não vou ganhar. Afinal, eu era Marta, atarefada, cansada, insegura, oprimida, murmuradora, infeliz, feridenta, coitadinha, teimosa, birrenta, tola.

Cansou de ler? Peraí que já vai terminar! Nem falei do Encontro ainda. Também nem vou falar, pois você irá deduzir o que aconteceu. Faço apenas um acréscimo na lista de defeitos daquela Marta – pessoas apressadas ficam meio cegas. Só quando cheguei do Encontro li de coração aberto outro trecho bíblico que eu costumava só passar o olho. Ô bobinha, estava lá o tempo todo: “Ora, Jesus amava Marta”. Aquela vírgula depois do “ora” dizia “preste bem atenção, escuta”. Ele colocou aquele nome antes dos de Maria e Lázaro (irmãos) a quem ele também amava.

Minha atitude já era diferente antes do Encontro, pois agora eu acreditava de verdade, tanto que disse “sim, Senhor. Sei que tudo dará certo”. Deixar a graça só para o final? Não! Ele queria ressuscitar meu irmão naquele momento, e fez.

Marta não mudou sua rotina, continuou servindo, dessa vez a Jesus. O que farei com esse nome agora? Serei como Saulo ou como Abrão? Mudarás meu nome ou transformarás? Faça o que quiser, mas me deixe servindo!

Ei! Isso foi um testemunho! Voltei.
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3 comentários:

Anônimo disse...

QUE TEXTO, BOM. QUE HISTÓRIA BELA. DA PROXIMA VEZ VC VAI LÊ-LA NA IGREJA.


BEIJOS MINHA JORNALEIRA.

Casa do Pão disse...

Marque o dia então, pra que eu me prepare psicologicamente!

Anônimo disse...

Q Historia mesmo!!!
Parabens Marta, alem de servi vc escreve muito bem!!!
Q Deus Abençoe!!!

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