Estou em busca de um pôr-do-sol. Não basta esperar até o final do dia para achar, pois a despedida do sol já não é a mesma daqueles tempos em que eu era apenas uma criança. Ah, e como eram bons aqueles dias!
Eu não parava um segundo, sempre inventando alguma coisa pra me divertir. Minhas bonecas se fartavam comendo folhas picadas (a comidinha). Qualquer treco virava móvel da casinha. Papel dobrado virava telefone. Melhor do que inventar brinquedos era gastar energia. E haja “pira-alta”, “pira-se-esconde”, “pira-cola”, “pira-cola-americano” e todas as variações de “pira”. Sempre descalça, brincava também de bambolê, fazia bolas de sabão e até me metia nas brincadeiras dos meninos. Até quando eles faziam coisas nojentas como matar os gosmentos bichos da vala eu ficava lá olhando (eca!). Tinha também o momento sagrado – a hora da merenda com ki-suco e pão massa fina (êêê).
Somente uma coisa me fazia parar – a despedida do dia. Quando o sol começava a partir eu parava e contemplava as incríveis cores e tonalidades do céu naqueles minutos. Fixando os olhos no horizonte tinha a vontade de andar alguns metros, como se pudesse chegar ao esconderijo do sol. Sem perceber o azul se misturava ao marrom, que ganhava tons em vermelho e amarelo também. Toda bobona ficava ali parada, até perceber que as primeiras estrelas apareciam. Eu não sabia, mas eu estava falando com Deus. Só que por mais que eu tente jamais poderei descrever o melhor pôr-do-sol do mundo.
Tempos depois descobri que existia o “Papai do céu”. “Quer dizer que foi Ele quem fez o céu, o sol e as nuvens? E ainda por cima é meu Pai, me criou? (olhos arregalados de criança). Cara! Ele criou as folhas, as árvores? Criou até a Maria-fecha-porta, aquela plantinha que se fecha quando tocamos?”, pensava. Acostumada a fuçar os livros de ciências da mamãe eu achava tudo ainda mais incrível. Eu via a perfeição de Deus manifestada na natureza. Descobrir a existência do Pai foi o primeiro grande momento da minha vida. Eu não sabia, mas aquela rua humilde, com asfalto desgastado, era o meu jardim do Éden.
Continuei admirando as ciências (menos a Matemática). Descobri que o pôr-do-sol é uma ilusão de ótica por causa da circunferência da Terra. Descobri também a origem do meu segundo fenômeno preferido, o arco-íris, que é um casamento entre gotas de água e raios solares. Mas a minha paisagem já não era a mesma, assim como tantas coisas desde que me mudei de lá. As invasões e edifícios cobriram muita coisa. A poluição ofuscou o arco-íris. Eu já não era a mesma. Nunca deixei de contemplar o céu, para tentar olhar nos olhos de Deus. Fazia isso o tempo todo, mas o pôr-do-sol não era o mesmo. Como encontrá-lo?
Na fase marmanja, continuei descobrindo. E quem diria, em Gênesis estava a explicação que eu buscava para o arco-íris: “porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra” (Gn 9:12). Ah, então era isso! Acho que muita gente novinha nunca viu o fenômeno ao vivo e a cores, pois como disse, a poluição atmosférica atrapalha. Ano passado vi um atravessando o céu em cima de um engarrafamento, de um lado a outro da pista da Avenida Almirante Barroso. Virou até notícia no jornal. “Eu ainda estou aqui”, sentia Deus mostrando. Superando a poluição o Criador só precisou de algumas gotinhas daquela chuva “relâmpago” e alguns raios de sol para provar isso.
Mas e o pôr-do-sol? Descobri que ele ainda está lá, do mesmo jeito e não há torre que consiga encobrir. Vira e mexe lá estou eu, olhando pro céu, olhando para os olhos de Deus, conversando com Ele, me rendendo. Pedi muitas vezes: “quero aquele pôr-do-sol novamente”. Até que entendi, há pouco tempo, porque meu pedido não era atendido.
Ora, tudo estava igual. O colorido, a beleza, a aliança, o sentimento de Pai e filha. Estava tudo ali, o tempo todo. Mas pra sentir tudo aquilo novamente, deixando tudo como antes, eu precisava ser como uma criança, novamente. Se o Reino dos Céus for mesmo dos pequeninos tenha calma Pai – estou providenciando. Ainda quero aquele pôr-do-sol. Me dá?
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