Site MANT Belém

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Envia-me

“Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra”.













“A quem enviarei?” Estaria o Senhor com uma grande dúvida ou estava apenas dando uma deixa para que alguém se habilitasse para as tarefas? Quem sabe que é filho de Deus quer ser digno de bênçãos, receber herança e tudo mais. Mas o que respondemos quando o Pai precisa de nós?

Numa reunião com os escolhidos Ele pergunta: “Quem quer mudar de vida? Quem deseja ver a família salva? Quem quer comprar um carro?” Até então todas as mãos se levantaram. “Mas quem vai abrir uma célula na Terra Firme?”

Que Deus nos livre de passar vergonha nessas horas! Nos tempos das pregações de Jesus nada foi mais revolucionário do que a ordem: ama teu próximo. Era um grande absurdo naquela época, considerando o isolamento quase sanitário entre os povos e classes sociais. Nos dias atuais muitos de nós dormem com a certeza de que amam demais o próximo. Mas Jesus não cansa de repetir a lição. Ele conhece nosso coração.

Faz um tempinho que reflito sobre a pergunta “a quem enviarei?” Olhando para as bênçãos derramadas a cada dia na Casa do Pão o questionamento aumenta. Na abençoada Escola de Líderes estamos lendo Atos dos Apóstolos, como parte do devocional. É um livro absolutamente lindo. Geralmente buscamos aqueles que descrevem a passagem de Jesus pela terra, mas em Atos temos justamente aquilo que veio após a subida aos céus. De lá Ele assumiu o comando do grande projeto. O emocionante do livro é o passo a passo de como Jesus ergueu sua Igreja e como nos delegou autoridade para irmos em Seu nome. Tudo é lindo naquelas páginas. Não apenas pelos milagres operados, mas pelas profundas lições deixadas para a Igreja.

“Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas”, ensinou Jesus no livro anterior (1). Era sinal de que muito trabalho viria pela frente. Muito mesmo. Em seguida todos foram preparados para levar o evangelho com a descida do Espírito Santo. Depois vieram as pregações, os milagres, os batismos. Vieram as primeiras multidões. “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração. Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (2)

Não era um trabalho fácil, mas tudo era uma alternância com recompensas: pregação, batismos, incredulidade, milagres, perseguição, multidões salvas, resistência, glória do Senhor. Por todos os cantos os apóstolos seguiam para levar a palavra de salvação. Numa leitura inocente, sem referências históricas, podemos perder a noção do que significava evangelizar em alguns locais. Eram lugares onde os apóstolos não eram bem vindos e seriam alvos fáceis para quem desprezava a verdade de Cristo.

Além do preconceito sentido havia o preconceito dentro deles contra aqueles povos. Para pregar foi necessário rever conceitos, romper barreiras, quebrar paradigmas para chegar aos povos mergulhados em impureza, resistência e idolatria. Sem isso não teríamos metade do Novo Testamento (Filipenses, Romanos, Efésios, Coríntios, Gálatas, etc). Muitos ainda vivem a mesma limitação de alguns dos primeiros cristãos, que preferiam pregar somente entre os que já conheciam a Lei, ignorando os gentios (os outros, os estrangeiros, os ignorantes, os desprezíveis aos olhos dos judeus). Por outro lado o texto enfatiza cinco vezes que, por onde os apóstolos passavam, “pregavam ousadamente”.

Mas onde está a ousadia quando desejamos levar a palavra somente para amigos e parentes? O simpático vizinho do prédio, os colegas de faculdade? Há quem pregue de crente pra crente. Mas quem terá ousadia para ir até os confins da terra? Uma desculpa é não saber o endereço. Às vezes os confins ficam bem pertinho. Perto da minha casa inclusive. Todos os dias, no trajeto até a parada de ônibus, me deparo com as mesmas pessoas: o mendigo, um idoso de expressão rabugenta, a senhora tomada pela loucura que vaga pela calçada e por fim o menino mal encarado que pede dinheiro em frente à farmácia. “Quem enviarás Senhor?” “Adivinhe!”

Dentro da abundância prometida pelo Senhor muitos sonham em morar naquela torre luxuosa nos bairros nobres. Ou bem longe, num condomínio fechado. Em que dia iremos olhar para o que ficou no meio? Quando iremos amar o próximo sem olhar para a Terra Firme, Bengui, Maguari, Condor, Sacramenta, Cabanagem, Sapolândia, Elo Perdido, Duas Irmãs, Tapanã, Guamá, Jurunas? O que pede a nossa oração: para que as pessoas peguem dois ônibus para chegar até o culto ou para que tenhamos disposição para irmos até elas?

Jesus, nos primeiros passos da Igreja, ensinou que não podemos taxar nenhum homem de comum ou imundo (3). Essa lição não era um anexo no manual da Igreja. Não era um projeto de responsabilidade social e sim uma questão de princípio. As ovelhas precisavam se desfazer do preconceito, do nojo, senão não iriam longe, não seriam luz entre os gentios. Sem sair do ar condicionado, sem sujar os sapatos, suar a testa, como chegar até os confins?

Culto dominical não é sessão de cinema onde assistimos a um maravilhoso filme e depois voltamos para a realidade, em cima do salto alto ou em carro com película. Ontem, voltando pra casa, a cidade continuava gritando. Já na saída fui acompanhada de um bêbado que fazia perguntas confusas. Por quatro vezes desviei o olhar dos homens que urinavam na rua, ignorando completamente a presença das mulheres. Vi mais de dez homens dormindo em cima de papelões. Vi rapazes travestidos de mulher e se prostituindo nas esquinas do Reduto. Vi jovens usando camisas com figuras demoníacas de bandas de heavy metal. Quem chegará até eles com ousadia?

Deus prometeu sarar nossa terra e nos colocou como instrumentos. E como diz a canção, se somos o corpo, por que esses braços não estão alcançando, as mãos não estão curando, as palavras não estão ensinando, os pés não estão indo, esse amor não está mostrando que existe um caminho?

Jesus tirou Pedro de onde estava para ensinar que não havia homem “imundo” diante do Senhor. Não é fácil, não é fácil. Mas somos o corpo! Com Isaías Deus fez a pergunta e ouviu um “eis-me aqui” (4). Mas poderia simplesmente ter delegado. Precisamos orar mais Senhor para que não precises apontar o dedo para o escolhido, mas sim que nós mesmos levantemos o dedo. O dedo do “envia-me”!

(1) João 21:15
(2) Atos 2:47
(3) Atos 10:28
(4) Isaías 6:8

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