Nesse novo espaço do blog olharemos para a sétima arte, mas veremos além... Pra começar vamos analisar um filme aparentemente simples, que retrata as angústias de alguém perdido no meio do nada, mas de conteúdo profundo que retrata os naufrágios que acontecem dentro das pessoas.
Tom Hanks interpreta nesse filme o atarefado Chuck Noland, inspetor da Federal Express (FedEx), uma empresa multinacional que entrega cargas e correspondências em qualquer parte do mundo no menor espaço de tempo. De tão perfeccionista os relógios eram uma obsessão. Pontualidade era tudo! Entregue ao trabalho Chuck deixava aquilo que chamamos felicidade para depois. Afinal ele estava muito ocupado supervisionando os escritórios da empresa espalhadas pelo mundo, para saber se todos eram obsessivos como ele.
Numa dessas viagens tudo foi interrompido quando o avião caiu, e o mar o levou até uma ilha deserta onde passou quatro anos, enquanto todos imaginavam que estava morto. Sem poder sair dali o jeito era arranjar formas de sobreviver, em meio a uma realidade totalmente desconhecida.
Da mesma forma muitos se deparam com situações em que precisam não apenas sobreviver fisicamente, mas emocionalmente. Mas como fazer isso longe de tudo aquilo que conhecemos, daquilo que nos dava segurança? Numa vida cheia de conexões e regras auto-impostas “o que aconteceria se esse homem tão conectado fosse desconectado de tudo?”, perguntavam os roteiristas ao desenvolver a trama.
Sem as seguranças de antes surgiram novos botes salva-vidas para o náufrago: a figura das asas de anjo num pacote (a esperança de sair daquele lugar), a foto da noiva (a lembrança amorosa) e o Wilson. Sim, o Wilson! Uma bola de vôlei que estava num dos pacotes do avião. Uma bola de vôlei com o rosto desenhado a partir do sangue da mão ferida.
O náufrago perdeu as referências, os amigos, companhia, conselhos, diversão, consolo. Mas havia o Wilson, que não era uma simples bola; era o grande amigo. Sem abrir sua “boca de plástico” Wilson dava todo o apoio que Chuck precisava. A cena mais dramática foi quando o “amigo” se perdeu no mar durante a tentativa de deixar a ilha num barco improvisado. “Desculpe Wilson, desculpe!”, gritava aos prantos. Parece ridículo? Só que tem muita gente que não desgruda do seu Wilson.
Pânico porque o seu time perdeu? O tamagoshi morreu de fome? Seu ídolo abandonou sua banda preferida? Seu filho não vai estudar Medicina, como você sempre sonhou? Seu celular foi roubado e você está à flor da pele há uma semana? É doloroso, sim! Mas o Wilson é realmente a firmeza de sua vida? Exemplo pessoal: chorar porque meu seriado preferido saiu do ar, justo quando eu estava mais deprê! “Wilson, Wilson!”
Onde está o sentido de sua vida? Tudo foi tirado do náufrago, o obrigando a refletir sobre o que era realmente importante. Mesmo assim ele cuidou de encontrar novos “sentidos”, novos “suportes”, novos “conselheiros”. Wilson é um sintoma. É sintoma de que as “firmezas” da nossa vida não são tão firmes assim. Sintoma de que algo está faltando; algo mais valioso que uma bola de vôlei. É sintoma de ilha deserta.
Mas quem seria capaz de frear os passos de Chuck, quando cogitou tirar a própria vida? Quem poderia permitir que ele saísse dali, apesar do mar revolto? Quem poderia cuidar de alguém perdido durante quatro anos no meio do nada? Ele não tinha um nome, nem um rosto como aquela bola. Mas Ele estava lá!
Ele não foi citado no roteiro, mas permitiu que nada faltasse naquela missão de sobrevivência e aprendizado. Só Ele poderia guiá-lo mansamente sobre águas tranqüilas e refrigerar sua alma. Chuck esqueceu de dizer que “ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam” (Sl 23).
Chuck esqueceu Daquele que consola os abatidos (2 Co 7:6) e se consolou numa foto, na lembrança de algo muito distante, que não teria mais, pois já não era o mesmo. Olhar para a foto expressava o desejo de voltar para a vida onde a noiva existia. Para ter de volta uma parte era necessário o todo, o velho, mas “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17). Pra que chorar por uma bola se existe o verdadeiro Consolador (Jo 14:16), que pode nos ajudar a fazer o fogo com gravetos mas também pode guiar o pequeno barco para vencer a quebrada das ondas?
Mesmo assim a bondade e misericórdia o seguiram. Após perder tudo naquela experiência faltava compreender o que era realmente importante. “E se fosse comigo? O que eu pensaria e faria se me visse na encruzilhada da minha vida e pudesse ir em qualquer direção que desejasse?”, questiona o roteirista. O que fazer? Por qual rota seguir? E pra quê se arriscar a novos naufrágios, ficando novamente isolado em ilhas desertas? Era hora (sempre é) de escolher a estrada correta, o Caminho, da verdade e da vida (Jo 14:6).
“EU te amarei, ó SENHOR, fortaleza minha. O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio. Invocarei o nome do SENHOR, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos. Tristezas de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram. Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam. Na angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face” (Sl 18:1-6).
Título Original: Cast Away
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: William Broyles, Jr.
Drama (2000), com Tom Hanks e Helen Hunt.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
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