Temos que correr. É isso que diz a Palavra. Mas, diante dessa figura, de pessoas apostas para seguir até o alvo, me perguntei se eu conhecia essa sensação. Correr, convicto de que não há nada mais importante na vida. Correr sem pensar em mais nada. Apenas correr.
Entrar no Reino e estar diante do Pai é o meu sonho, o meu alvo. Só que nunca havia imaginado essa entrada como uma corrida. Nessa hora lembrei da sensação mais parecida que já vivi para alcançar algo importante, correndo.
Na época eu andava sem alvo. Numa de minhas empolgações inventei de ir pra São Paulo, mesmo estando ruim de grana. Alvo: o show do U2. Achei lindo aquele último álbum e, no embalo, passei a ouvir a discografia, com canções que marcaram a minha infância, mesmo quando não sabia o que as letras diziam.
Assistir ao show no Morumbi era uma ideia empolgante, assim como qualquer um fica feliz em pensar que um dia vai chegar no céu. Pensei assim até me falarem de uma “terra prometida”. Sim, ela existia, e chamava-se “hot area”. Era uma área espaçosa e reservada na frente do incrível palco. Sem aperto, sem empurra empurra e o U2 passando pertinho de você pelas passarelas.
Era o vip do vip, mais chique do que qualquer camarote. Parte do meu grupo voltou do primeiro show, ainda sem acreditar naquela experiência. Sem escolha, sem sorteio, apenas deixaram o povo ir entrando, pela graça e misericórdia dos organizadores. Vips instantâneos.
“Será?”, me perguntava, junto com o grupo do segundo show. Vai que eles repetem esse ato de graça? Pagando pra ver (literalmente, e muito caro), estávamos na entrada do estádio as dez da manhã para o show que começaria lá pelas oito da noite.
Enfrentamos de tudo naquela fila quilométrica: sol, chuva, fome, sede e gente querendo furar a fila na cara dura. Os portões foram abertos às 16h. Quando a fila começou a andar não tínhamos noção de quantas pessoas estavam na nossa frente. Ao entregar o ingresso éramos guiados para encontrar o caminho.
Quando os guardiões fizeram sinal senti que estava livre. Sem pensar duas vezes comecei a correr. De repente me vi descendo a rampa em alta velocidade. Na minha frente o palco, as portas da “hot area” abertas e outro “guardião” deixando o povo passar.
Nunca corri tanto e com tanta convicção, como se pudesse ouvir ao fundo “Carruagens de Fogo” como trilha sonora. Eu parecia uma criança e era como se estivesse chegando no paraíso. Somente quando entrei pude olhar ao redor e ver que fomos os primeiros e todo o meu grupo havia entrado, menos um. Vi fecharem a entrada diante dele. Atrás começou a se aglomerar a multidão de fãs do U2.
O povo de trás iria assistir ao show como sardinha em lata, e eu, devidamente agraciada, tinha espaço até para tirar uma soneca no piso emborrachado. Pulava e gritava só pelo fato de estarmos ali. Tirando as empolgações performáticas do Bono foi legal vê-los de perto.
Lá pelas tantas o vocalista, arranhando um português, disse que na noite anterior eles haviam tocado para todo o Brasil (pela TV), mas que aquele show seria a nossa “festinha particular”. Piramos mais ainda com essa declaração.
Lembrei dessa aventura diante da imagem da corrida. Lembrei do esforço tremendo que fiz por causa de um mero show. Pensei nas coisas que colocamos o nosso empenho, que a primeira vista é o melhor que podemos alcançar na vida.
Olhando aquela imagem eu imaginava o que iria acontecer se eu empregasse a mesma determinação, a mesma loucura, o mesmo suor, a mesma velocidade, a mesma liberdade, tendo outro alvo. Há uma corrida mais importante, mas a nossa força é empregada em tantas outras corridas. Desse show o meu prêmio foram histórias pra contar e nada mais.
Eu ainda tenho força e velocidade, para um boa corrida, de prêmio inestimável. Sabe, Jesus está preparando uma festa, particular. Lá o show tem hora para começar e não tem para acabar. Alegria, paz, amor, louvor, adoração e glória sem fim. Ingresso: misericórdia (ou seja, de graça).
Mas há uma condição - tem que correr! Tem que correr mesmo, para não deixar escapar. Nesse show até o pobre vira vip, se correr. E para quem perder a hora não adiantará aquela conversa: “Sabe com quem está falando?” Anônimo ou Bono Vox, tem que correr.
A Palavra diz que nem todos entrarão. Certamente isso não é uma disputa, o importante é completar a prova. É semelhante aquela corredora das Olimpíadas, que cruzou a linha de chegada toda torta, de tanto cansaço.
O importante é completar a prova. Para quem nunca foi um atleta da Palavra e andou fora de forma, pode cruzar a linha de chegada através do arrependimento.
Na entrada da área vip o ladrão crucificado ao lado de Jesus pedia: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no Teu reino... Em verdade, te digo hoje: estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:42-43). Ah, se não tivesse corrido!
“Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13b-14).
Isso nos faz correr! Correr para um lugar reservado, particular.
Obs: Não errei o vídeo. Esse é o MercyMe, tocando Where The Streets Have No Name (Onde as ruas não têm nome). Legendas próprias. Na época eu não sabia do que a letra falava.
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