Fazemos tantas coisas pra Ele, do jeito que nos ensina, mas não estamos preparados para esse momento. É que nem o vestibulando, que perde o sono por causa da bendita prova. Somente depois, quando o sufoco termina, vai pensar: “pra quê eu estava estudando mesmo? Puxa, eu vou ser um médico, um engenheiro, um advogado!” E qual é mesmo o motivo para tanto esforço pela obra do Senhor? Seria safar a própria alma no dia do juízo?
Nem acreditei quando ouvi pela primeira vez I Can Only Imagine (Eu posso apenas imaginar). Primeiros momentos pós-conversão, fase de descoberta. O radinho estava ligado na Diário FM, rádio comercial que ouvia sem parar. Levantei do computador, mas voltei correndo quando ouvi aquela melodia. O som estava bem baixinho, mas nas primeiras frases percebi de cara que tinha algo muito estranho na música. Muito mesmo. De repente: “Êpa, ele disse Jesus? Disse Hallelujah? O que essa música tá fazendo aí?”
Fiz uma incessante busca no Google, com trechinhos da letra pra descobrir quem cantava. Era o MercyMe, cantando o que se tornou hino nas igrejas americanas e tomou conta das rádios cristãs e não cristãs. Chegou aqui. Quem sempre está por aqui já percebeu que gosto muito deles. É uma banda que fala da presença de Deus e do desejo de vê-lo, como nesse primeiro grande sucesso. A letra escrita por Bart Millard surgiu por ocasião da morte do pai que, mesmo diante da enfermidade, expressava conforto sem limite.
Nessa frase “posso apenas imaginar” vinha o otimismo em poder abrir os olhos novamente, no grande dia. Ao invés da dor veio o questionamento: “o que farei quando estiver diante de Ti? Vou dançar, vou me prostrar, ficar parado, cantarei?” Nem adianta ensaiar. Posso achar que um jeito é mais bonito e digno do que outro, mas como prever?
Eu não sabia ainda porque a música me atraia tanto, mas já era um marco. Música sempre foi tudo pra mim. Em 70% da minha vida eu estava ouvindo alguma. Os outros 30% era quando estava dormindo ou num lugar onde não dava pra ouvir música. Pagodes (e afins) a parte eu ouvia de tudo, como um acervo ambulante. Me apelidaram até de MP3.
O gosto cada vez mais apurado me deixou em apuros, pois as canções evangélicas que apareciam eram repetitivas tragédias sonoras. Mas Deus foi paciente comigo e me mostrou I Can Only Imagine. Minha rádio na internet me indicava artistas parecidos e fui me abastecendo e aprendendo a louvar e adorar. Hoje nem o idioma importa. Também aprendi um verbo lindo do inglês, “awe” (sentimento misto de admiração, respeito e temor).
Descobri há pouco tempo qual era o segredo da canção. Descobri o que estava na cara: meu maior sonho é ver meu Pai, desde a infância, quando contemplava o pôr-do-sol. Não quero pensar só na “prova”, mas Nele. Quando a missão confiada a mim parece trabalhosa, quando o mundo me puxa, eu penso logo: “vale a pena trocar isso pela chance de te ver, de cantar I Can Only Imagine?”.
Nem Deus, em infinita sabedoria, pôde explicar na Palavra como é o Reino, pois há coisas que nem adianta explicar. É como a criancinha que acabou de nascer. Vem um e pergunta: como ela é? Daí respondem: é liiiiiiiiinda, tem bochecha liiiiiinda, olhinho liiiiiiindo. Insatisfeita a pessoa vai conferir e volta maravilhada. Daí vem outro e pergunta: então, como ela é? É liiiiiiiiinda, tem bochecha liiiiiinda, olhinho liiiiiiindo.
Quando penso no Reino me embaralho toda, pois é difícil até imaginá-lo. Dúvida abençoada! Mesmo assim oro agradecendo. E choro, bastante, bem bobona. Não que Deus não tenha capacidade de explicar - sou eu que não poderia entender sem ver. Agradeço, pois meu Pai tem algo tão maravilhoso guardado pra mim que não pode nem ser traduzido com palavras. É um lugar lindo, porque Tu estarás lá, e eu vou te ver, finalmente, meu amor.

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