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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Crônica – A todo tempo

Ahhhhhhh!” Foi a minha reação ao descobrir a alguns anos uma foto jurássica da minha infância. Eu parecia um poodle com aquele emaranhado de cabelo, no pior estilo anos 80. Simplesmente eu havia deletado da mente aquela auto-imagem do corte curtinho, mas abundante em cima. “Como a senhora pôde me esconder a verdade esse tempo tooooodo?”, questionei com a mamãe, que apenas ria da minha memória seletiva.

O mico já estava pago e consumado há muito tempo. Da mesma forma é necessária a queima de arquivo daquelas roupas nada discretas que usamos naquela década. E como demorou para entendermos que o laranja e rosa-choque, juntos, doíam na vista. Também fico sem palavras quando passam na TV trechinhos daqueles videoclipes “supermodernos” cheios de efeito de gelo seco e design “futurístico”.

A gente “se achava”! Achávamos que éramos o topo do desenvolvimento, da tecnologia, das coisas arrojadas. Foram necessárias duas décadas para percebermos que muita coisa era pura empolgação, e que menos era mais. No Brasil era tempo de redemocratização, que trouxe uma injeção de liberdade e otimismo, expressos nos produtos culturais e comportamento. Na prática qualquer sociedade se acha superior a anterior. Assim ela se vê desobrigada a preservar costumes e princípios, em nome do desenvolvimento. Tudo o que seus pais ou avós faziam é tido como ultrapassado. Daí pra trás é arqueologia.

Esse é o caminho que leva muitos a pensar que a Bíblia é um livro de história, “de uma história bem distante de mim, que não serve para os meus dias”. Ironicamente as gerações costumam julgar que os males de seu tempo são os piores, que não há remédio e pior não fica. Em que ano foram ditas as frases: “Este mundo está perdido”“A que ponto o homem chegou”? Terá sido semana passada, diante da informação trágica do noticiário, ou foi há alguns séculos, quando o mundo estava assolado por incontáveis guerras?

Nessa lógica, quando Moisés foi o porta-voz de Deus para o povo, poderia ter concluído que a sociedade estava muito avançada para levar a sério aquelas coisas. Afinal haviam passado pelo menos cinco séculos desde a aliança feita com Abraão (Gn 26:4). Como poderia então o atualizado Davi registrar em salmo que “o Senhor é o meu pastor e nada me faltará”(Sl 23:1), se já havia passado mil anos dessa mesma promessa? Tem gente que muda de guarda roupa anualmente, se recusando a usar algo do verão do ano passado. Paulo (Saulo) poderia ter concluído que era bobagem seguir um tal de Cristo, que havia “morrido” há quatro anos, e que o povo insistia que havia ressuscitado (At 9:4).

Milhares e milhares de pessoas acreditam na existência de Deus e clamam por Ele com palavras ou pensamentos, nem que seja num simples “ai meu Deus!” Graças aos tipos móveis de Lutero a Bíblia está a nossa disposição. Mas por que concluir que esse mesmo Deus, em imensa perfeição, iria nos dar um livro com prazo de validade, com palavras e ensinamentos perecíveis? Por que nossa geração, infortunadamente a nossa, seria esquecida por Ele? Que Pai seria esse?

“Ah, mas nós somos modernos, ou melhor, pós-modernos”. São necessidades pós-modernas com soluções pós-modernas. Seis por meia dúzia! O que é o estresse, senão angústia (Mt 11:28)? O que são crimes cibernéticos, senão roubo (Ex 20:15)? Qual o remédio para a depressão senão o bom e velho amor do Pai (Mt 5:4)?

Como bem resumiu Hebreus 4:12 “a palavra de Deus é viva e eficaz e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. Ela não é um exemplar daquela revista científica que prova que Deus existe, pois Ele não prova nada a ninguém, DEUS É O QUE É (Ex 3:14). Também não é um livro de auto-ajuda para encontrarmos só o que queremos ouvir. Não é um livro para enfeitar salas, trazendo forças sobrenaturais só por estar aberto. Não foi um best-seller escrito por alguém digno de cadeira entre os “imortais” da Academia. Foi algo escrito pelas mãos dos homens, mas não vem dos homens, mas sim da influência do Espírito Santo.

“Mas que caretice essas coisas de santidade”! É fácil cantar que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Mas é difícil lembrar de honrar os pais, amar ao próximo, como nos foi ensinado de séculos em séculos. E quando tudo o que acreditamos entra em colapso buscamos as explicações dos “especialistas”, que tiram o conhecimento de fontes humanas, imperfeitas, frágeis e inconstantes.

Quando o namorado rejeitado perde o controle chamem os psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, sociólogos e tudo mais! São inteligentes como eu e você. Leram muitos livros, escritos por pessoas que nem filhos tiveram. São preparados, mas tem problemas ainda sem solução com os filhos adolescentes, como qualquer pai. Síndromes, complexos? Eu ouço apenas gritos de socorro. Tragédias pós-modernas? Para Aquele que tudo vê e tudo sabe são os problemas de sempre, que a mesma Palavra pode transformar. Não somos melhores nem piores do que as gerações que passaram. O tempo para a transformação não passou e nem está por vir.


“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto... Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3:7 e 13).

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