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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Crônica - Me põe no listão!

O macete! Em tempos de vestibular ele vale ouro para qualquer estudante. Astúcia, jeitinho - chame como quiser, mas o fato é que os candidatos a calouros querem esse algo a mais para garantir sua vaga. Parece até clichê comparar o vestibular a uma guerra. Mas é isso mesmo!

Ainda lembro dos meus professores – um mais figura que o outro. Todos cheios de shows de interpretação, piadas e “causos” sobre o vestibular. Só hoje entendendo o quanto se esforçam para amenizar a tensão de quem está indo para o combate. Ainda bem que não era um quartel de verdade. Senão, sabe lá o que aconteceria comigo quando adormecia de boca aberta na frente da professora de História, no primeiro horário da manhã.

Fora isso eu estava sempre atenta. Mais do que fazer uma boa prova aprendi que não podíamos morrer na praia. São aqueles zero vírgula alguma coisa que te separam do listão. Guerra é guerra! Eu não era boa em otimismo, nem em grandes empreendimentos. Era uma “ex-futura-CDF” que tirava boas notas e tentava ter uma relação amigável com a Matemática, que nunca foi com a minha cara.

Desde os treze anos eu queria ser jornalista. Mas faltava a prática de dizer que algo seria meu e ponto final. Nunca esquecerei o alvoroço no colégio quando saiu a lista da concorrência. “Olha lá o teu curso: 11,82 por uma vaga”. Mesmo sem entender como alguém pode ser 0,82 eu respondi tranquilamente: “uma é minha e o resto que corra atrás”.

Confesso que não me reconheci nessa confiança contra as circunstâncias, mas embarquei naquela nova “loucura”. Eu era uma vestibulanda otimista. Mas até outubro havia esquecido um detalhe importante: estudar como uma vestibulanda. Mais do que os concorrentes aprendi que no vestibular combatemos outros e verdadeiros inimigos. Concorremos com nós mesmos, com medos, dores, inseguranças, ofensas e tudo mais. Mas como já estava louca mesmo consegui, de forma inédita, afastar de mim tudo o que atrapalhava meu sonho e agüentei firme até a prova.

Quando as revisões começaram tudo era mais fácil. Só faltava o macete. As beiradas das páginas do fichário ficavam cheias de fórmulas, anotações e todas as dicas que os professores repassavam. A mais curiosa foi dada na véspera da prova de Matemática. “Se você não consegue resolver a questão de nenhum jeito, desenhe”! “Como assim tio?” É isso mesmo! Era importante, mesmo sem a solução, mostrar que você conhecia a montagem da fórmula, o detalhamento das funções, a identificação dos componentes na figura, etc. Como estava em trégua com os números eu desejei apenas fazer uma boa prova, com pontos suficientes pra passar. Paralelamente, todos os eventos com o título “para vestibular” me atraiam como formiga no açúcar. Eu esperava encontrar nas oficinas e palestras o tal macete, o segredo para passar sem riscos.

Quando as provas chegaram eu sabia do meu potencial, não para ser a primeira colocada, mas para garantir o que era meu. O plano era não zerar Matemática e arrasar nas outras. Mas quando a bendita chegou... Enquanto os números me travavam uma voz ecoava na mente: “desenhe, desenhe...” “É pra já, nisso eu sou boa”. Minha prova estava uma verdadeira obra de arte e até consegui resolver algumas questões.

Só que a punhalada certeira foi na de Física, aquela matéria que é legal (fora a parte do cálculo). Não adiantava, eu não conseguia desenhar nada e estava prestes a zerar. Não sobrou nenhum macete pra me salvar. Fiquei gelada e mesmo com os segundos rolando de forma implacável eu larguei a caneta. Guardei alguns minutos olhando pela janela. Queria contemplar o céu; meu jeito preferido de falar com o Pai. Meio atrevida, naquele tom de “seguinte Deus...” eu fui sincera com Ele, a quem eu havia esquecido. Foi a atitude mais louca da minha vida até então, quando disse assim:

Tu sabes que foi uma longa caminhada até que eu chegasse aqui. Esse é o meu sonho, que é muito importante pra mim. E eu quero pensar que não foi à toa, mas que Tu tenhas desejado isso pra mim também. Eu estou com muito medo agora. Desculpe se parece pretensão mas, durante esse ano, em nenhum momento me passou pela cabeça a possibilidade de não passar. Sei que não é o fim do mundo fazer cursinho e começar tudo de novo, mas eu simplesmente não me preparei pra isso, e não quero acreditar que vai acabar agora. Me ajude a resolver essa prova”. Depois reli cuidadosamente cada questão.

O listão foi pra mim somente um alívio, pois, apesar de tudo que havia passado, sabia que iria passar. Eu não fui a última da lista, mas passei por pouco. Tirei meio ponto em Física. Tirei tudo isso. Eu mereci, pelo fato de gostar das aulas, mas não exercitar as fórmulas. A vaga era minha, mas eu tive que ganhá-la de novo, sem macete. “Valeeeu!”
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