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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A queda dos super-heróis

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6:19)

Todo o dia é a mesma coisa. Vestimos a roupa azul de sempre, com a capa vermelha e saímos “voando”... de carro, de ônibus... Fazemos tudo o que queremos acreditando na estrutura infalível do corpo que temos. Os super-heróis estão em toda a parte, falando dentro de nós e guiando nossos procedimentos. Até que um dia eles vão embora e nos deixam na mão, nos momentos mais críticos.

Num dessas tardes ensolaradas de Belém o homem entrou no ônibus, fez uma pergunta à cobradora, pegou a carteira para tirar o dinheiro... De repente foi abandonado pelo super-herói dentro dele. Ali na roleta ele ficou; se encurvando lentamente pra frente, como aqueles bonecos infláveis que murcham. Cena confusa. Pessoa de boa aparência, aparentemente saudável, quarentão, bem vestido, parecendo aqueles que seguem o lema do “Carpe Diem”, ou no bom português “deixa a vida me levar”. Duvido que ele tenha “perdido” uma sexta-feira, sem estar num ambiente descontraído com a turma de super-heróis.

Só que ali ele não tinha força. Nem para segurar a carteira de dinheiro, nem a de cigarro, que caíram no chão, pois os dedos estavam se retorcendo. Os passageiros tentavam entender o que acontecia. Uns perderam tempo achando que era truque. Outros o passaram na roleta e o jogaram no banco como um boneco despedaçado, com os olhos arregalados em minha direção, como se já tivesse partido. Desesperadamente ele puxou o ar.

Implorei para que o colocassem reto, deitado no chão. Infarto, derrame, sabe lá. Uns abanavam, outros olhavam. Não entendo nada de primeiros socorros mas sabia duas coisas. Uma era dar apoio à cabeça para que respirasse (ou tentasse). Outra era orar. Implorei a Jesus para que o salvasse, para que o homem não fosse embora sem conhecê-lo.

Estávamos a caminho do hospital, e eu sabia que daria tempo. Às vezes ele desmaiava outras vezes olhava nos meus olhos lacrimejando. Eu sabia que estava angustiado tentando falar e não conseguia. Não tinha força. Mais uma vez ele puxou o ar se jogando o peito pra frente, desabafando: “eu não quero morrer”. Nessa hora veio em minha direção o ar forte de bebida. Aquilo doía em mim, mas eu sabia que daria tempo, dizendo a ele que Jesus o salvaria. Dito e feito. Chegamos ao hospital e as últimas notícias foram de que estava voltando.

Em outros tempos eu tomaria água com açúcar depois de um episódio assim. Mas eu estava abundantemente feliz. “Que homem abençoado”, pensei. Ele teve direito a um susto. Foi terrível, mas foi um susto. Tantos outros não tem direito a um susto, não tem a chance de mudar suas escolhas. Viramos cascos vazios de super-heróis, viramos estatísticas.

Perfil da mortalidade no Brasil
06/11/08

Tendência é a de expansão das mortes por doenças crônicas e causas externas. Doenças do aparelho circulatório são as que mais matam e violência já ocupa segundo lugar em três regiões do país.

As doenças da modernidade são as que mais matam no Brasil. Dados do Ministério da Saúde confirmam que o perfil da mortalidade no país mudou ao longo dos anos, acompanhando a tendência mundial de mais mortes por doenças crônicas e violentas. Por grupo de causa, as doenças do aparelho circulatório - associadas à má alimentação, consumo excessivo de álcool, tabagismo e falta de atividade física – lideram o ranking e são as que mais matam homens e mulheres no Brasil.

Ao todo, 283.927 pessoas perderam a vida por problemas do aparelho circulatório - 32,2% das mortes em 2005. É o que mostra os dados do capítulo Mortalidade no Brasil e regiões da publicação Saúde Brasil 2007, do Ministério da Saúde, que traz o perfil detalhado da mortalidade dos brasileiros. Nas regiões, as doenças do aparelho circulatório também são as que mais matam, com percentuais de 33% no Sudeste, 32,9% no Sul, 31,9 no Nordeste, 31% no Centro-Oeste e 24,9% no Norte.

Para o Ministério da Saúde, esse perfil de mortalidade mostra mudanças que refletem a urbanização rápida e desenvolvimento do país – no passado, o que mais matava no país eram as doenças infecciosas e parasitárias, tais como as diarréias, tuberculose, malária, entre outras.

Como as doenças crônicas estão ligadas à inatividade física, ao consumo de álcool, tabaco e alimentação inadequada, os dados reforçam que o brasileiro deve investir na mudança de hábitos e buscar, por exemplo, parar de fumar, consumir alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras, praticar atividade física regularmente e diagnosticar e controlar a hipertensão arterial e a diabetes.

“Comer alimentos com excesso de gorduras, de açúcares e de sal, além de fumar e consumir abusivamente bebidas alcoólicas, potencializam o risco de uma pessoa ter um quadro de doença circulatória, como o AVC, conhecida como derrame”, afirma o diretor do Departamento de Análises de Situação de Saúde (DASIS) do Ministério da Saúde, Otaliba Libânio. “Outro grande inimigo da saúde e aliado dessas doenças é o sedentarismo. Por isso, é necessário investir em hábitos saudáveis para melhorar a qualidade de vida e reduzir doenças e óbitos”, comenta.

De acordo com informações da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), em 1930, as doenças infecciosas respondiam por cerca de 46% das mortes em capitais brasileiras. A partir de então, verificou-se a redução progressiva, sendo que, em 2003, essas doenças responderam apenas por cerca de 5%. Por outro lado, as doenças cardiovasculares, que representavam apenas 12% na década de 30, são, atualmente, as principais causas de morte em todas as regiões brasileiras, respondendo por quase um terço dos óbitos.

MORTES PREMATURAS – Mesmo com os avanços estruturais e econômicos obtidos nas últimas décadas, dados do Ministério da Saúde mostram que uma parcela expressiva da população perde a vida prematuramente no país. De acordo as informações, 413.345 pessoas faleceram antes de alcançar a terceira idade, considerada a partir dos 60 anos. Isso representou 41,2% do total de 1.003.350 óbitos registrados no Brasil em 2005. Entre as pessoas com 60 anos ou mais, os óbitos totalizaram 590.015, o que correspondeu a 58,8% do total de falecimentos registrados no país.

PRINCIPAIS CAUSAS – As causas de mortes podem ser agrupadas em grandes grupos (circulatórias, respiratórias, neoplasias, causas externas) ou categorizadas por causas específicas (AVC, pneumonia, atropelamento, homicídio).

Ao separar por causas específicas, dentro do grupo das doenças do aparelho circulatório, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) se destaca como a que mais mata. Em 2005, 90.006 pessoas morreram por essa causa. Isso representa 31,7% das mortes decorrentes de problemas circulatórios e 10% dos óbitos totais do país.

A segunda maior causa específica de óbito no Brasil é a Doença Isquêmica do Coração, principalmente o infarto agudo do miocárdio, que também pertence ao grupo das circulatórias. Em 2005, 84.945 pessoas perderam a vida por causa do infarto – 9,4% do total de mortes do país. Na avaliação das 10 primeiras causas de mortes no país, estão outras duas doenças circulatórias. A doença hipertensiva e a insuficiência cardíaca ocupam o 8º e 9º lugar, com 33.487 (3,7%) e 31.054 (3,4%) mortes, respectivamente.

VIOLÊNCIAS E RESPIRATÓRIAS – Com número expressivo de óbitos, as causas externas respondem pela terceira posição no ranking da mortalidade no Brasil. Os dados regionais mostram um cenário preocupante: as causas externas são a segunda maior causa de óbitos em três das cinco regiões do país – Norte, Centro-Oeste e Nordeste. No Sudeste e no Sul, as causas externas ocupam o terceiro lugar.

Embora estudos do Ministério da Saúde já tenham apontado redução na tendência de mortes por homicídios, principal causa específica do grupo das externas, essa mortalidade se mantém em patamar elevado, principalmente nos homens jovens, de baixa escolaridade e negros.

Entre as causas específicas desse grupo (causas externas), os homicídios correspondem a primeira causa no grupo e à terceira causa no total de óbitos do país. Outra causa importante nesse grupo é o acidente de transporte terrestre, constituindo a sétima causa específica no total de óbito do país.

As causas de mortes por doenças do aparelho respiratórias ocupam o quarto lugar. Em 2005, foram 97.397 óbitos, o que corresponde a 11,1% do total. Essa tendência é a mesma para todas as regiões. Em ordem decrescente, os percentuais de regionais foram de 11,7% no Sudeste e Sul, 10,9% no Norte, 10,4% no Centro-Oeste e 9,4% no Nordeste.

Fonte: Ministério da Saúde
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