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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Crônica - Nada poderá...

“Ele (Deus) é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar onde cheguei. Muitas pessoas têm essa capacidade, mas não têm a oportunidade. Ele a deu pra mim, não sei porque. Só sei que não posso desperdiçá-la”. (Ayrton Senna)

Há pessoas que são diferentes. Nem sempre entendemos o porquê, mas são simplesmente diferentes. Nem melhores, nem piores; diferentes. Parece apenas que eu pisquei, mas já passaram quatorze anos. Que saudades daqueles domingos! Por mais clichê ou “piegas” que possa parecer digo que fui fã de Ayrton Senna, o “da Silva”, o “do Brasil”. E não foi à toa.

Desde aquela manhã tenho palavras engasgadas, como o choro que fica preso na garganta de muitos, só de lembrar do Senna. Na época eu nem sonhava em ter um espaço como esse para chegar às pessoas. Mesmo assim eu esperava, e sabia que ainda iria chegar um momento para explicar (ou tentar) o que sentia e via. Reproduzo aqui o que o entendimento de uma criança de doze anos permitiu na época.

Senna era um ícone. Estávamos acostumados com os hits das rádios, as jingles dos produtos preferidos. E claro, a música do nosso piloto na TV, chegando na frente, mais uma vez. Eu não era chegada a esportes, mas aos poucos fui sendo atraída pela Fórmula 1. O Senna era diferente.

Eu não via nele um piloto. Eu via um vencedor. Não porque ele sempre vencia, mas porque tinha sede de vitória. Mais ainda: era indescritível a alegria de vê-lo ganhar, subir no topo do pódio. Não importava o carro, nem se estivesse chovendo canivete. Ele vencia. Mais do que isso; naquela emoção e garra descobri o motivo da minha admiração inicial: ele ensinava a vencer.

O automobilismo em si não é nada demais. Mas isso não ofuscava o brilho. Pena que durante alguns anos ele pilotou uma “caixa de cigarros com rodas”, com as cores do intoxicante patrocinador. Mas lá dentro havia um brasileiro, que fazia questão de dizer ao mundo, a cada vitória, de onde ele era. Já virou mania se vestir com a bandeira verde-amarela, que vira e mexe é flagrada pelas câmeras, em meio a multidões pelo mundo. Não era assim antes do Senna. Conhecida era a camisa da seleção brasileira. Depois dele perdemos a vergonha de deixar a flâmula balançar ao vento. Ele vencia por todos nós e mesmo num esporte elitista tocava todos os brasileiros. Quando conquistou o campeonato correndo no Brasil ele parecia uma criança.

Decidi virar telespectadora cativa das corridas. Em 1994, na primeira disputa da temporada, correndo pela Williams, eu estava aposta, empolgada, sozinha no quarto. Foi frustrante vê-lo rodar na curva e encalhar. Pior ainda foi vê-lo deixar a corrida seguinte, após uma colisão na primeira curva. Com o coração pulando me preparei para a terceira corrida, crente que dessa não escapava. Ansiosa eu sentei na sacada e nem piscava (não mesmo), com o rosto escorado entre as mãos.

Inicialmente eu não computei a batida da tal curva Tamburello. Não percebi a gravidade. Após um longo silêncio (raríssimo na TV) eu já não queria acreditar. Somente quando mexeu de leve a cabeça vi que havia perigo. Mas na minha mente era impossível um herói se ferir, quem dirá morrer. Senti o mundo parar naquelas horas, até o anúncio da morte do Senna. Foi drástico.

Após a enxurrada melodramática dos noticiários, diluída ao longo dos anos, guardei dois momentos. A “Canção da América” (amigo é coisa pra se guardar...) virou uma trilha sonora no país, mas o que mais marcou foi a frase que ele gostava, e está gravada em sua sepultura: “Nada pode me separar do amor de Deus”. Somente há alguns anos, no contato com a Palavra, descobri que vinha de um versículo. Só ontem me deparei que foi o primeiro que conheci ou prestei atenção, por ocasião do Senna. Outros se lembrarão do Senna como aquele que fazia doações secretas aos carentes, como ensina o Pai, “que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6:4).

Até hoje tentam descobrir o que aconteceu com aquele carro. Outros desejavam apenas estar na mente do piloto no momento em que olhava reflexivo para o veículo, como mostrado na TV, numa imagem que ainda instiga. Despedida, pressentimento... Tudo se especula. Ao aprender mais sobre os propósitos de Deus fui deixando de perguntar: “por que justo ele?”

Ontem pensei nele intensamente o dia todo, engasgada. Como disse antes, ele é diferente. Por motivos que só Deus sabe eu passei a “desconfiar” de algumas pessoas. Quando eu fuço eu acho. Não encontro respostas, mas sinais importantes, que servem de aprendizado. Somente ontem fiz algo simples: pesquisar sobre ele na internet. Eu sabia que Senna era amigo, e até pulou o muro do hospital pra visitar o Barrichello, que havia sofrido um acidente semanas antes do seu. Sabia da acirrada disputa com Prost (só não sabia que era tanto).

E mais. Descobri que mesmo sendo uma pessoa discreta Senna deu uma declaração surpreendente, em 1988, após o GP do Japão. Era o final da corrida do primeiro título mundial. Sem nenhum receio ele relatou:

“Eu estava pedindo a Ele pela vitória. Deus me deu um campeonato de luta, conquistado na penúltima prova do ano, como todo piloto sonha. Era um presente enorme. Mesmo orando, eu estava super concentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande... Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, uma luz em volta. Seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, ocupando todo o espaço. Ao mesmo tempo em que tinha esta incrível imagem, eu guiava um carro de corrida. Guiava com precisão, com força... É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer.”

Senna era marcado pela dualidade: feroz nas corridas e manso fora delas. Ele fez suas manobras arriscadas nas pistas, ultrapassando os limites da imprudência. Como qualquer um de nós também se arriscou nas pistas da vida. Naquele momento reflexivo reconheço um sentimento: aquele em que pensamos o que é realmente importante na vida. Como ele mesmo declarou, vencer era uma verdadeira droga. “Ser o segundo é o mesmo que ser o primeiro dos perdedores”, afirmou.

Eu também não quero perder. Não há quem me diga que não vou conseguir. Fui conduzida a pensar, durante anos, que bastava morrer para ir para os braços do Pai. Mas a palavra é claríssima ao mostrar que o Reino dos Céus “é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12). É a nossa corrida, cheia de curvas! “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mt 7:13-14).

Não importava o oponente, nem a chuva: a vitória impossível era possível. Ela é possível! “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Rm 8:35) Nada, nada! Tempos atrás, desejando a minha própria vitória, pensei: “será que o Senna vai estar lá?”

Agora, mesmo engasgada, fica um sentimento intenso no coração. Um otimismo teimoso de que o campeão - acostumado a agarrar a vitória em questão de segundos – tenha, nos últimos instantes, acelerado. Acelerado de forma sobrenatural, para não deixar escapar, na última hora, o seu maior e verdadeiro sonho. E quem poderá nos separar? Quem?
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Um comentário:

Dani Tavares disse...

Incrível enxergar a vida de Senna desse angulo. Sempre admirei o Senna, não como piloto mas como um vitorioso. Ele falava com as mãos fechadas, fazendo isso como uma demonstração de garra.
Essa semana falei dele e hj, lendo seu blog, tive a confirmação de que Senna era um vitorioso e nada poderia mudar isso, simplesmente pq ele cria no poder de Deus em sua vida. e "nada poderá nos separar do amor de Deus!".
Bjos infinitos!!!

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