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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Uma carta pra você (1ª)

Nesta época costumamos enviar cartões, mandar cartas para pessoas queridas, contando as boas novas ou as desejando para o ano que se aproxima. Escreverei algumas e as envio por aqui. São para pessoas a quem me remeto, não por serem mais especiais que as outras. Mando porque estou em dívida. Mas talvez você tenha escrito uma delas. Ou talvez uma delas seja pra você. Vamos lá ...

“Ben”,

Desculpe por não ter lhe enviado uma carta, na época em que deveria. Não fique chocado se faço isso aqui, apenas receba. Tempos atrás te vi on-line e pensei: vou escrever uma carta. Em seguida pedi teu endereço. Era só pra saber como você estava, mas você não respondeu a mensagem. “Não mudou nada”, conclui. Melhor assim!

Mais adiante, um ensinamento se repetia consecutivamente, através de várias pessoas: precisamos perdoar para sermos perdoados. É esse o desejo do Pai. Tão simples como um “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6:12). Simples, mas que negligenciamos. Gostei da Palavra e me sentia feliz por não conseguir lembrar de ninguém a quem ainda não havia perdoado. “Que bom”, pensei.

Enquanto meu pastor falava a pulga se instalou repentinamente, como uma pasta resgatada no arquivo. Eu pedi perdão a você (descentemente)? Não conseguia lembrar mesmo. “Senhor, eu pedi perdão?”, insisti. No mesmo segundo, cravado, o pastor interrompeu sua fala com um “ah... tem lá também no versículo...”, citando seu nome. Tudo bem que você tem nome de apóstolo, mas, como eu não acredito em coincidências, me rendi: “tá, não pedi.”

Antes mesmo de cogitar alguma forma de fazer isso, superando a distância, eu achei uma carta – a que eu não te mandei. Foi durante uma faxina sem precedentes no meu quarto, de lavar a alma. Nem acreditei em estar diante dela. Com muito atraso te conto o que havia escrito:

Belém, 10 de abril de 2003. Comecei com um singelo protesto, pois estava difícil falar com você (essa nova!). Fazia tempo que não tínhamos as nossas conversas, daquelas em que ouvíamos muito um do outro, e pouco interferíamos. Eu tinha muitas novidades pra te contar, mas sempre era interrompida. A última tentativa tinha sido a bordo do velho UFPA, quando, por intermédio da minha presença, aquele colega puxou papo e vocês se perdoaram depois de tanto tempo. Cortou nosso papo, mas foi legal!

No semestre anterior eu estava um barril de pólvora, descontando em todo mundo. Eu tinha mil coisas pra fazer e nenhuma delas me dava prazer, como você meso disse certa vez. Eram obrigações auto-impostas, escravidão espontânea. Numa daquelas quintas havia uma reunião no centro, do grupo de audiovisual e o professor. Dessa vez eu simplesmente respirei fundo e disse pra mim: “eu não vou”, repetindo até me convencer.

Na mente veio um pedido: “faça ela me ligar”. Alguns minutos depois, num horário em que eu nunca estava em casa por causa dos tais afazeres, minha amiga estava feliz e ofegante do outro lado da linha. Deixou de ir à academia e correu pra me ligar, como eu desejei.

Era a minha amiga preciosa, que reencontrei na adolescência após termos estudado juntas, sabes onde. Sua alegria de longe não lembrava a tristeza da infância. Ela tinha algo que eu também desejava, pois agora andava com Deus – o meu Pai, que eu tanto buscava. Fui colocada como um bebê nos braços dela, para que, embalada pelas Palavras do Senhor, aceitasse que eu não estava sozinha, e não me faltaria amor, nunca.

Após dizer: “eu não vou”, revelei a Ele: “meu coração está pronto”. Meu Pai me queria tanto que o telefone tocou. “Eu estava esperando”, disse. “Eu sei”, ela respondeu, porque o Espírito Santo não a deixou perder tempo.

No domingo, quando a acompanhei até a igreja o pastor falava do “mistério dos tempos”. Explicou que era como um casamento: “Eu te dou o que é meu e você me dá o que é seu”. Nesse instante me visualizei como uma náufraga, que viu algo flutuante para se segurar. Disse, liberando os pulmões para respirar, literalmente: “eu estou salva, eu estou salva”. Eu não tinha nada pra dar a Deus, que tem tudo. Só precisava me entregar, ter uma aliança. O meu pouco, junto com o muito Dele, seriam uma coisa só. Esse pouco era o meu coração.

A carta era horrível, confusa, atrapalhada. Eu tentava te dizer como era bom ter uma vida com Jesus. Mas, porque eu não te entreguei a carta? Porque não insisti na conversa? Perdoe-me, pois fiz tudo errado. Foram quatro anos naquele lugar. Na metade, eu quis mudar de rumos e fazia tudo errado. Mas o Senhor colocava as pessoas certas no meu caminho, e eu ia trocando de colo. Você foi testemunha de uma dessas trocas, quando eu participei da minha primeira célula, na escadaria da Unama. Espantado você me perguntou o que acontecia ali.

Eu estava aprendendo, estava buscando a Palavra, o verdadeiro alimento. Inspirada por aquela experiência, de ter pessoas cuidando de mim, orando, se derramando, intercedendo, eu desejei cuidar de você, de alguma forma.

Éramos extremos, né? Ou era alegria extrema ou tristeza extrema. Bons tempos bancando os bobos no campus, enquanto nos chamavam de “futuros formadores de opinião”. Por outro lado tinham os sofrimentos, os meus e os seus. Entendia o teu sofrimento, pois eu vivia condenada ao esconderijo do meu quarto, remoendo feridas, botando pra tocar aquelas músicas, pra fazer doer mais ainda. Ouvíamos a mesma trilha sonora.

Mesmo sangrando eu queria estancar tuas feridas. Que ingenuidade. Queria que você tivesse algo ao qual até eu estava fugindo. Mesmo assim eu me derramava por você, orava. À noite eu chorava a sua dor como se fosse a minha. Eu tentava te carregar, mas não conseguia ficar de pé. Às vezes era dramático, como naquela noite em que literalmente te carreguei, quando você perdeu as forças no meio da rua. Ouvi tua alma gritando naquela hora. Foi “trash”.

Eu fazia tudo errado, pois vivia confusa. Tão confusa que passei a te atacar com as minhas feridas. E como eu era especialista nisso! Me perdoe meu amigo, pela crueldade extrema. Me perdoe por cada palavra que ia como faca. Me perdoe pela amargura. Não importa o que aconteceu, eu errei. Me perdoe. Aquele mero calhamaço de papel não era maior que nós. Perdoe esse tolo coração.

Quando eu consegui engolir aquela mágoa, e lembrar o quanto eu te amava e sempre iria amar fomos dando o braço a torcer, pra que a amizade não morresse na praia. Confesso que nos últimos tempos, antes de você viajar, não pensava muito em ti. Parei de me derramar. Depois de meses e meses sem lágrimas eu chorei. Chorei demais, ao encontrar a carta. Não sei explicar o que senti, mas não era tristeza, era uma faxina.

O ano de 2008 foi uma faxina, verdadeiramente. Eu parei de fugir, de fugir do meu noivo. Agora eu sei o que sou em Cristo, pois não sonego mais o meu coração. Estava mesmo procurando uma data aproximada da minha aliança com Ele, foi em fevereiro, tendo a carta como referência.

Lá eu também descrevia outra Palavra daquele ano. “Sobre uma camponesa que ficou noiva de um príncipe. Só que o tempo foi passando e ela esqueceu completamente do compromisso, esqueceu que era noiva. Esqueceu que um dia o príncipe declarou o seu amor e a pediu em casamento. Esqueceu que ela disse sim. Que noiva seria essa que esquece algo tão importante, que nem sequer contou aos outros do seu noivado? Que esqueceu do seu vínculo com o príncipe e por conta disso era vista flertando com outros amores?”, escrevi.

E não é que eu havia esquecido mesmo! Sabe, eu amo demais, demais meu noivo. Mais do que tudo. Mais do que aquelas feridas, mais do que aquelas dores, mais do que aquela trilha sonora. Amo quem me salvou, quem me ornou como princesa. Ele, que me quer e me chamou desde o ventre da minha mãe. (Isaías 49:1) Eu o amo!

Por causa dele eu não choro mais. Acabou meu amigo, acabou, acabou! Não há nada que me roube tudo o que vem dessa aliança. Acabou! Nunca mais eu cantarei aquela canção - aquela. Não direi mais “without you I´m nothing”, pois é pra Jesus que posso dizer com certeza: “sem ti não sou nada”. Também não sou a libertina dessa letra, nem de brincadeira. Não perdi o poder da fala. Minha felicidade não é diurna, não termina quando chego ao quarto. Não sou mais derrotada pelo que pesa no travesseiro. Já provei muito da sombra, agora o que me atrai é a maravilhosa luz, maravilhosa, incomparavelmente maravilhosa (I Pedro 2:9). Eu não fui feita pra isso. Sabes que não fui feita pra sofrer, que não fui feita para divãs. Fomos feitos unicamente para o melhor.

Bons tempos benzinho, quando juntos, por caminhos tortos, buscamos o ouro. Não achei o metal, achei mais. Me cheguei a Deus e Ele se chegou a mim (Tg 4:8). Finalmente, Ele chegou! Em cada choro, em cada lágrima, estava lá, no meu quarto, batendo na porta do meu coração. E eu sei o tamanho da tua sede, da tua fome. Ouça, ouça! Estou aqui, Ele está aí. Meu amigo; “ben”; és muito amado! Tu sabes disso? Sabes?

Te amando, sempre, sempre,
MC

Obs: a tal carta já era!
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