Às vezes perdoar é um gesto corriqueiro. Mas para muitas pessoas perdoar é o maior desafio de suas vidas. Na mente daqueles que estão magoados, feridos e contrariados é algo tão improvável que chega a aprisionar a alma.
Mas não faltam exemplos de quem conseguiu se libertar independente da dimensão de sua mágoa. Um deles foi José, cuja história é contada em Gênesis, o preferido entre os vários filhos de Jacó. Uma situação que despertava a inveja entre os outros irmãos. Na visão deles José era o típico filho “certinho”, que monopolizava a atenção do pai. Apesar da pouca idade ele tomava sempre lugar de destaque e liderança, que também se manifestava através de seus sonhos proféticos.
De inveja esse favoritismo se transformou em ira por parte dos irmãos, que o venderam o venderam como escravo aos mercadores ismaelitas, por vinte moedas de prata. Prisioneiro no Egito ele acabou se tornando conhecido como intérprete de significado dos sonhos. Habilidade que despertou a atenção do Faraó, que o nomeou governador do Egito.
Confirmando que o mundo dá muitas voltas José reencontrou os irmãos. Mas ao invés de aproveitar da situação para se vingar e deixá-los passar fome durante anos, José percebeu o arrependimento dos irmãos e decidiu perdoá-los. Naquele momento ele esqueceu a dor, agressões e humilhações sofridas ao ser preso e vendido pelos próprios irmãos. José escolheu se libertar da prisão espiritual que viveu durante longos anos em troca de novas bênçãos. O perdão não mudou o seu passado, mas transformou o seu futuro.
*Rede de jovens. Todos os sábados, às 20h.
Prisioneiros da mágoa
Muitos fingem não ver, mas eles estão lá, em situação de abandono em calçadas, praças, parques e viadutos. Os chamados “mendigos” ou “pedintes” dividem espaço com o lixo nas ruas das cidades, como tristes retratos da miséria humana. Na falta de um teto, calçadas e papelão viram cama e agasalho. Já a próxima refeição é imprevisível. Ao encontrar um morador de rua no caminho muitos concluem que aquela situação é apenas o resultado da pobreza do país e descaso dos governantes. Difícil é imaginar as histórias de abandono por trás daquelas aparências debilitadas.
Pela primeira vez, com o objetivo de desenvolver políticas públicas específicas, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) fez um diagnóstico dessa população. É a Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua, realizada de agosto de 2007 a março de 2008, que incluiu dados de Belém e Ananindeua.
Conflitos - Brigas constantes, trocas de ofensas, desgaste, decepção, sofrimento. A cada dia a paz de uma família é destruída. Drogas e álcool são combustíveis para novos conflitos entre pais e filhos, irmãos, casais. Com a chegada do desemprego o ente, que já não é mais querido, passa a ser um peso para a família. Essa é uma realidade refletida nas estatísticas, que apontaram o abuso do álcool e das drogas, os conflitos familiares e o desemprego como os caminhos que levaram muitos a viver nas ruas.
Mágoas - Nos poucos abrigos e albergues eles recebem alimento, orientação, incentivo para trabalhar e estudar e até tratamento de saúde. Mas o limite é sempre na tentativa de refazer os laços familiares. Mesmo com a intercessão de assistentes sociais muitos se recusam a abrir as portas para o familiar abandonado. Isso porque toda a família adoeceu por causa de seus conflitos e não conseguem curar as feridas deixadas por aquela experiência.
Quem descobriu o que é uma vida de altos e baixos foi Pedro Paulo Siqueira, 53, que há quase duas décadas vive nas ruas. Quando saiu de casa por causa das brigas com pai, o álcool passou a ser um companheiro. O emprego como vigilante também estava com os dias contados, pois ao chegar embriagado no trabalho foi demitido por justa causa.
Para o ex-vigilante o álcool era uma fuga de todas as frustrações. Nos tempos de pedinte, após uma sucessão de ‘nãos’ sempre tinha alguém dizendo “tome uma que você esquece”, lembra. O momento mais difícil é à noite, uma mistura de solidão de medo. “A rua não é boa. Quando cai a noite você quer um agasalho e não confia em quem está do seu lado, nunca sabe o que pode acontecer”, diz.
O primeiro gesto de ajuda veio em 1999, quando dormia na Praça do Relógio. Lá ele conheceu as freiras do Abrigo João de Deus, que distribuíam sopa aos moradores de rua. Encaminhado para o abrigo Pedro pode se recuperar de um princípio de pneumonia. A solidariedade o encheu de expectativas de mudança de vida, mas a realidade fora do abrigo era cruel.
Na busca de emprego o estigma da rua é um obstáculo. Numa entrevista Pedro deu como referência o endereço da família, da qual já perdeu contato. Ao descobrir a verdade o funcionário da empresa foi categórico: “resumindo, você não tem casa”, conta. O currículo que inclui curso técnico de edificações e habilidade em datilografia já tem o mesmo peso “pois sempre perco na idade e por morar na rua”, lamenta. Doente, sem trabalho nem casa, o Abrigo João de Deus tem sido a única segurança de Pedro Paulo nos últimos anos, na falta de um lugar convalescer quando os problemas respiratórios se agravam.
Sem auto-piedade Pedro acredita que a solidariedade alheia “não ajuda se a pessoa não tiver boa vontade”. Mesmo nas ruas ele não esquece as obrigações como eleitor e acredita na necessidade de investimentos na área social. “Sonho em ter minha independência, que não chega a ser uma utopia”, afirma.
Confira aqui a matéria completa.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
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