Distraída a caminho do culto, ontem à noite, ouvi uma música bem familiar que vinha duma igreja perto de casa. “Se o mar me submergir a tua mão me traz a tona pra respirar, e me faz andar sobre as águas”. É uma canção que toca o tempo todo. Mesmo assim, segui pensando nela. Era Pedro naquela letra, afundando. Ô Pedro!
Fui visualizando a cena. Lá estava o discípulo de boca aberta vendo Jesus caminhar sobre as águas. “Sou eu!”, dizia (Mt 14). Mas para conferir se era verdade o teimoso pediu para que também fosse capaz de fazer aquilo, e caminhar até Jesus. Que seja. “Vem!”, disse o Senhor. E lá estava o homem repetindo aquele feito tão incrível. Mas o vento bateu. Junto veio a insegurança. E lá se foi Pedro, afundando que nem nos desenhos animados, dando tchauzinho.
“Porque duvidaste?”, questionou Jesus após puxá-lo do mar. “Que burro esse Pedro, não confiou no Senhor”, poderíamos concluir. Mas comecei a pensar quantas vezes nós também afundamos pela pouca fé, pela dúvida, pela insegurança, pelo medo.
Não fomos feitos para caminhar sobre as águas, nem voar, nos tele-transportar ou fazer esses truques legais que aparecem nos filmes. Até segunda ordem somos regidos pelas leis da Física. Mas e se Jesus disser: “Vem”?
“Sabe o que é. Eu nem sei nadar direito, Jesus...” Enquanto isso Ele está ali, a poucos metros, só nos esperando, ouvindo aquela conversa mole. “E tem mais, se eu me molhar posso até pegar uma virose, meu Senhor”, completa. Talvez Pedro tenha acreditado que seria um super-herói se pudesse imitar Jesus. Não percebeu que tudo era mais simples do que imaginou.
Não seriam as pernas dele, não seria a habilidade dele. Foi Jesus quem determinou que aquele homem iria sim, caminhar sobre as águas. O Senhor não disse que ele podia fazer aquilo por si só. Loucura seria tentar essa proeza quando desse na telha. A questão era outra. Naquele momento, através da ordem de quem sabia fazer, ele poderia. A parte de Pedro era simples – acreditar e andar.
E quantas vezes afundamos por coisas do tipo: “não conseguirei passar no vestibular porque sou burro, não conseguirei um bom trabalho porque sou incapaz, não posso pregar o evangelho, pois sou muito tímido”. E lá está o Senhor de olhos arregalados.
Se Deus for mesmo brasileiro (e paraense) diria: “pequeno, tu ainda estás duvidando?” Jesus não quer uma multidão com super-poderes, só estava dizendo, “me dê esse problema aqui. Deixe comigo suas impossibilidades, seus medos. Agora, vem!”.
Parece até aquelas lições na infância, para aprender a pedalar sem as rodinhas. O pai vai para o outro lado e diz: “Vem!”. O medo da criança ainda é grande, por isso ainda têm mais uma ajuda – ele vai segurando na bicicleta enquanto o filho pedala. É o momento em que, sem perceber, a criança aprende a andar sozinha, encorajada pelo pai. Depois é só comemorar juntos aquela conquista.
Depois percebi que o trecho daquela canção fala do plano “B” de Jesus. Se o homem não confiou o suficiente, nunca faltaria uma mão para trazê-lo à tona. Só que Jesus, semelhante àquele pai que ajudou a criança, não quer segurar na bicicleta por muito tempo.
Na verdade, eu não sei andar de bicicleta (ai, falei!). Também seria complicado, a essa altura, chamar o papai para pagar esse mico, numa manhã de domingo na Praça da República. Sobrou para o Espírito Santo, pelo menos na parte espiritual da coisa.
Bom mesmo seria não afundar, não duvidar, sem precisar eternamente da mão que nos salva na última hora. Bom seria caminharmos em linha reta sem pensar duas vezes, ignorando o vento. Bom seria abandonar as rodinhas, sem medo de cair, pois Jesus está ali do outro lado dizendo: “Vem!”. Com muita ousadia dava até pra mexer na letra da música: “e me faz pedalaaaaarr sobre as águaaaaaas”.
Têm até foto! Lembra?
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